O Erro Crítico

aaaa- Faça um pedido! - diz a garota, estendendo o papel de bala a ele.
aaaa- O quê? - responde o garoto, confuso.
aaaa- Você não conhece esta brincadeira?
aaaa- Não... como é?
aaaa- É fácil! - começa a menina, os olhos reluzentes de empolgação. - Nós dois seguramos esse papel de bala e cada um faz um desejo. Depois, a gente puxa o papel, ao mesmo tempo, cada um para um lado. Quem ficar com o pedaço de papel maior, tem o desejo realizado!
aaaaMaravilhado com a idéia, o menino segura o papel. "Que fantástico!", pensa ele. "O que será que eu vou desejar? A paz mundial? Doces e brinquedos? Uma bicicleta? Mas espera... tem algo errado nisso. O que acontece se eu desejar o-".
aaaaHá milhoes de galáxias de distância dali, um gigante acabara de acordar, no meio do espaço. Fora tirado de seu sono por uma terrível agitação no cosmos, como se algo tivesse dado terrivelmente errado, algo capaz de destruir todo o universo, e ele estivesse sendo perturbado por todos os seres viventes, por ser o único capaz de fazer algo a respeito. E era exatamente isso o que estava acontecendo.
aaaaCometas e asteróides passavam por ele, repletos de informações e relatórios de erros. Era a primeira vez que isto acontecia, desde que ele havia criado o universo: houve uma falha no sistema.
aaaaE então, analisando com mais atenção as mensagens em telas azuis que passavam por ele, montadas em rochas flamejantes que iam e vinham sem parar, o gigante entendeu. Havia acontecido o erro crítico. O único erro irremediável de seu sistema, a única brecha que ele não havia conseguido consertar. E agora lá estava ela, exposta, prestes a desmantelar todo o universo, consumindo assim a tudo e a todos.
aaaa"Como?", pensou o gigante, e seus pensamentos eram sóis explodindo na vastidão escura do espaço. "Como eles descobriram a falha? Eu a escondi na Terra, lar dos seres mais estúpidos de toda a criação. Os humanos não deveriam ter a capacidade de se deparar com o erro crítico! Então, como? Onde adquiriram tamanha criatividade? Bem, isto agora não importa mais. Eu preciso resolver o problema, mas ainda estou muito cansado para isso. Criar toda essa imensidão de coisas exauriu todas as minhas forças, e eu ainda as estou recuperando. Acho que, por agora, eu vou só reiniciar o sistema. Cuido do resto quando acordar".
aaaa"... O que acontece se eu desejar o pedaço de papel menor?"
aaaaO garoto ainda teve tempo de erguer a cabeça e ver a grande mancha escura crescendo no céu, descendo pela estratosfera como um líquido derramado, antes de perder completamente a consciência.